domingo, 24 de outubro de 2010

Milésimos de segundo

A piada é velha mas ainda é divertida.
  - Sabe quanto é um milésimo de segundo?
  - Não.
  - É o tempo exato entre o farol da frente dar verde e o carro de trás começar a buzinar

Brincadeiras à parte, um milésimo de segundo é muito pouco. Para se ter uma idéia, nosso cérebro demora em média 40 milésimos de segundo para interpretar e registrar cada nova imagem captada pelo olho.
Isso é cinco vezes o tempo necessário para um beija-flor bater as asas uma única vez. Entre o momento em que o cérebro humano emite uma ordem para mexer uma mão e o instante em que o movimento de fato acontece, gastam-se 200 milésimos de segundo. Durante quase toda a sua história, a humanidade jamais precisou dividir o segundo em mil frações para compreender o mundo à sua volta. Foi apenas na década de 50, com a invenção dos relógios atômicos, que os milésimos passaram a ser medidos com precisão.

Milésimos de segundo são uteis no esporte para resolver uma questão mercadológico. Não se quer que exista o empate. Desde que, em 1922, o nadador americano Johnny Weissmuller, o ator de Tarzan, quebrou o recorde mundial dos 100 metros livres ao completar a piscina em menos de 1 minuto, o recorde mundial diminuiu 13 segundos. No ultimo recorde batido, Cesar Cielo baixou a marca do frances Alain Bernard em 3 centésimos, para 46s91.Nos próximos dez anos, ele dificilmente vai cair mais do que 1 segundo. A probabilidade de uma prova dar em empate, assim, será muito maior.

Desde 1916 já era possível se medir centésimos de segundos quando a empresa Tag Heuer (nessa época só Heuer) lançou um cronometro denominado Micrograph. A partir daí já começaram a se regsitrar diferenças sutis entre os competidores. Um exemplo recente aconteceu na Olimpíada de 2008.

Esta Olimpiada consagrou Michel Phelps como o maior nadador de todos os tempos com oito medalhas de ouro, superando Mark Spitz, compatriota norte-americano, que na Olimpiada de 1972 em Munique, havia ganho sete.

Cavic (à direita) chega antes
mas não leva
Numa das provas, a sétima - onde o recorde seria igualada - Phelps disputou os 100 metros borboleta com algumas feras, entre eles o sérvio Milorad Cavic. A disputa foi apertada mas o sérvio perdeu. Por um centésimo de segundo! Cavic ainda reclamou e pediu a revisão do resultado pois achava que tinha chegado primeiro mas Phelps acabou ganhando mais uma medalha e se tornando o maior nadador da história.
Uma análise posterior de fotogramas extraídos de um vídeo feito por uma camera instalada no fundo da piscina, mostrou que, realmente, Cavic encostou antes no sensor mas a força do impacto não foi suficiente para o registro uma vez que sua regulagem é feita para impactos mais fortes, caso contrário até mesmo uma marola seria suficiente acioná-lo. Cavic, um dos maiores esportistas da Sérvia de todos os tempos, perdeu de novo, para o mesmo Phelps, no Mundial de natação de 2009, por.....sete centésimos.

Pior que um centésimo, é um milésimo. Como se mede? Para ter a precisão exigida, a Tag Heuer utiliza cronômetros de quartzo. Ativados por uma corrente elétrica, o mineral emite freqüências estáveis, que servem como unidade de medida. A 200 km/h, a diferença  de um milésimo de segundoentre dois carros equivale a 4,5 cm. É praticamente impossível o critério de cronometragem tornar-se ainda mais  preciso do que é hoje. O limite para isso não é só tecnológico, masfísico. Nessa linha evolutiva do tempo, o próximo passo seria a capacidade  de medir décimos de milésimos de segundo.Dois carros separados por um décimo de milésimo de segundo, também a 200 km/h,  estariam a 4,5 milímetros um do outro.

Campbell (terceira de baixo p/cima vence
Lauryn (terceira de cima p/baixo).
No mundial de atletismo de 2008 realizado em Osaka no Japão, a america Lauryn Williams marcou o mesmo tempo que a jamaicana Veronica Campbell. As duas marcaram exatos 11s01 no cronometro. Após muitas análises de fotos da chegada e mudaremduas vezes o resultado a conclusão foi de que Lauryn ficou atrás da jamaicana - o correspondente a 3 milésimos de segundo. Em breve, teremos alguém perdendo por um unico milésimo. Será justo?


Fontes:
CAETANO, Mariana. O Estado de S. Paulo,11 abr. 1999.
Duda Teixeira- Revista Veja Edição 2024, Dezembro de 2007

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