sexta-feira, 24 de setembro de 2010

De Sordi - o lateral da seleção

 Todo mundo sabe da tradição da seleção brasileira de futebol nas copas do mundo. Ela nunca deixou de participar de nenhuma das edições e conseguiu se sagrar cinco vezes campeã, um feito fantástico. Mas isto nem sempre foi assim e, até ganhar pela primeira vez, foi uma seleção sem muita expressividade.
Nas primeiras participações sua atuação foi discreta. Após a segunda guerra o Brasil já tinha um futebol maduro com grandes jogadores e uma seleção digna de ser campeã. A copa do mundo de 1950 foi quase que feita para o Brasil ganhar. Realizada no próprio Brasil, por ser um dos países não afetados pela guerra, teve a participação de apenas 13 seleções. Facilmente a seleção brasileira foi às finais, bastando empatar na final para ser campeão. Mas aconteceu o inesperado e diante de mais de 200 mil pessoas, o Uruguai fez o estádio do Maracanã se calar. O Brasil ficou em segundo. Uma tristeza marcada para sempre.

Para a copa de 1954 tudo mudou. Novo técnico, novo time, novas regras. O país sede era agora a Suíça, outro país não atingido pela guerra. O Brasil, pela primeira vez, teve que passar por uma fase classificatória. Passou fácil. Todos nessa época sabiam que a copa de 1954 praticamente já tinha dono. Era a Hungria. Os outros times achavam que estavam na copa para disputar o vice-campeonato. A seleção húngara estava invicta desde 14 de maio de 1950 e tinha sido campeã da olimpíada de 1952. O Brasil nesta época era governado por Getulio Vargas que, como bom ditador, antes da viagem praticamente exigiu que os convocados voltassem com a taça. Era uma missão quase que  impossível  e a seleção fez o que pode até cair com....a temível Hungria. O Brasil não só perdeu como deu um vexame histórico ao promover uma briga fenomenal ao final do jogo.

Depois dos dois desastres, todos ficaram convencidos de que nossos jogadores, embora habilidosos, tinham alguma disfunção psicológica e reagiam como crianças na hora da responsabilidade: ou fugiam dela, ou partiam para o tapa. Sociólogos até levantaram a tese de que a mistura racial brasileira gerara um povo sem fibra. E os racistas de plantão culparam negros e mulatos, como se os brancos não tivessem tremido em 1950 ou se descontrolado em 1954.

Quando veio a copa de 1958, embora os maiores talentos fossem os negros e mulatos, a seleção foi a princípio “branqueada”, por orientação do psicólogo João Carvalhaes, convidado pelo novo técnico Vicente Feola.

Entre outras novidades, a seleção que começou os preparativos em 1957 apareceu com De Sordi na lateral direita e Dino Sani no meio, dois brancos. De Sordi , assim como Dino Sani, se destacara como campeão pelo São Paulo neste ano. Na final contra o Corinthians, apesar do jogo nervoso, os jogadores dirigidos por Feola e orientados pelo Dr.Carvalhaes, se mostraram bastante equilibrados. Se dava certo jogar com brancos no São Paulo, daria certo também na seleção.

De Sordi, que chegou a jogar na seleção de 1956 como beque-central, substituía Djalma Santos que era o titular absoluto da lateral direita desde a copa de 1954.

Nilton de Sordi nasceu em Piracicaba, interior de São Paulo e se revelou no time local o XV de Piracicaba até ir para o São Paulo onde se revelou. Baixinho, raçudo, excelente marcador, raramente ia ao ataque como era costuma na época.

No primeiro jogo de 1958 o Brasil só tinha um negro – Didi. A estréia foi contra a Áustria e veio a vitória de 3 x 0. O segundo jogo foi um melancólico empate sem gols com a Inglaterra. Depois disso os jogadores se reuniram com a comissão técnica e o resultado foi mandar às favas os critérios racistas e Garrincha e Pelé foram escalados contra a Rússia. Um arraso, com vitória de 2 x 0. As vitórias seguintes, igualmente fantásticas : 1 x 0 contra o País de Gales – um golaço de Pelé – e 5 x 2 contra a França – devastador. Os negros brilhavam e na lateral direita lá estava ele – o branco De Sordi – todos prontos para serem campeão.

A final era contra a Suécia, um dos favoritos. Na época não havia o critério de substituição. Se um jogador se machucasse ele saía do jogo e o time ficava desfalcado. Antes da final De Sordi  sentiu uma antiga contusão no joelho direito. Queria jogar a final, ser herói por ganhar o primeiro campeonato mundial do Brasil e pensou em ir para o sacrifício. A consciência porém, não deixou. Na noite anterior conversou com Mauro, o capitão da equipe e seu companheiro de quarto. Mauro o aconselhou a sair. Se ele não agüentasse o jogo todo e o Brasil perdesse por estar com um a menos ele seria crucificado. No dia da final, antes do jogo ele pediu ao técnico Feola que o substituísse. Houve quem interpretasse como se ele tivesse medo da decisão.

Feola colocou Djalma Santos. Djalma entrou e deu conta do recado. Não só jogou muito bem como foi eleito o melhor defensor pela direita da copa. Na foto oficial da seleção campeã lá está ele: Djalma Santos. Quando alguém pergunta sobre a heróica seleção de 1958 todo mundo se lembra e traz na ponta da língua a escalação: Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Bellini, Nilton Santos...... De Sordi? Poucos sabem quem foi. Não saiu na foto.



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